NINGUÉM EXPLICA DEUS - (Teologia Bhartiana)



Vida e Obra

Karl Barth nasceu em 10 de maio de 1886 na cidade suíça de Basiléia. Sua família era tradicionalmente protestante, fazendo parte da Igreja Reformada, sendo seu pai professor de teologia. Segundo o autor Batista Roger Olson, Barth, por ocasião de sua profissão de fé, com apenas dezesseis anos, decidiu enveredar pelo mundo dos estudos teológicos, visando o pastorado e o magistério. ( OLSON,p.593).

Iniciou seus estudos teológicos na própria Suíça, precisamente na cidade de Berna, prosseguindo em universidades alemãs de renome como Berlim, Marburg e Tubingen. Como grande maioria dos estudantes de teologia deste período, Barth foi educado dentro de um ambiente dominado pelo liberalismo teológico. De acordo com o teólogo católico italiano Battista Mondin, “seus professores foram os mestres mais célebres do último liberalismo teológico: Harnack, Gunkel, Schlatter e Hermann.” (MONDIN, p.36).

Sobre o liberalismo teológico, uma breve palavra. Este movimento, nascido no seio do protestantismo alemão entre os séculos dezoito e dezenove, não deve ser encarado como um destruidor deliberado da fé cristã, mas sim como uma legítima reação cristã diante de uma sociedade que experimentava um acentuado grau de secularização. Não obstante, sua grande falha residiu no fato de, justamente por buscar uma elevada acomodação com esta nova sociedade, abriu mão de pressupostos básicos da doutrina cristã. Não bastando, promoveu uma verdadeira deificação do ser humano. Sobre este último aspecto, Alister McCgrath, teólogo anglicano irlandês, fornece a seguinte característica:

O liberalismo inspirava-se na visão de uma humanidade que avançava em direção a novos estágios de progresso e prosperidade. A teoria da evolução deu uma nova vitalidade a essa crença, que foi nutrida pela robusta evidência do equilíbrio e do progresso cultural que se verificavam na Europa Ocidental, ao final do século XIX. A religião, cada vez mais, era vista como algo relacionado às necessidades espirituais da humanidade moderna, proporcionando-lhe um direcionamento ético.( McCgrath,p.139).
Este foi o ambiente histórico, filosófico, teológico e cultural do jovem Barth. Após concluir seus estudos, foi ordenado pastor pela Igreja Reformada Suíça, assumindo, primeiramente, uma paróquia de língua alemã em Genebra. Em 1911, foi designado como pastor na pequena comunidade de Safenwill, onde se envolveu com a situação social de seus paroquianos, ligando-se ao Partido Social Democrático e a vários sindicatos. Por sinal, a simpatia de Barth para com o socialismo democrático seria uma marca fundamental durante toda sua vida.

No inicio de seu pastorado em Safenwill, Barth iniciou um processo de ruptura com o liberalismo teológico que o havia formado. A esse respeito, vejamos o que nos afirma Battista Mondin :

Quando subiu ao púlpito, percebeu a inutilidade de todos os estudos histórico-críticos da vida de Cristo e do Evangelho. Aquilo que o povo lhe pedia era o anúncio da Palavra de Deus e não doutas dissertações sobre aquilo que pertencia à história e aquilo que pertencia à fé. Pedia-lhe, ademais, um anúncio correto, atual, que correspondesse aos problemas colocados pela industrialização, pela socialização, pela luta de classes, pela guerra. ( MONDIN. p, 37).
No entanto, o ponto máximo que promoveria o total rompimento do teólogo de Basiléia com o clássico liberalismo teológico, seria o comportamento de seus professores, amplamente ligados a esta corrente teológica, de apoio à política bélica alemã que resultaria na Primeira Grande Guerra Mundial em 1914. Desta forma, todo um processo de desilusão com o liberalismo teológico chegou a seu ápice.

Como fruto desta nova fase, publicou, em 1919, sua grande obra, considerada, por muitos, a principal peça teológica do século XX, o célebre Comentários aos Romanos. Neste livro, usando como base a conhecida epistola paulina, o reformado suíço refutou praticamente todas as premissas do liberalismo teológico, dando ênfase na distância existente entre Deus e o ser humano. A publicação deste comentário pode ser considerado o grande marco de uma nova escola teológica; a neo-ortodoxia ou teologia dialética.

Logo após a publicação do Comentário aos Romanos, Barth iniciou uma prestigiosa carreira como docente de teologia, exercendo esta função em importantes universidades alemãs como Gottingen, Munster e Bonn. Em Bonn, iniciou a produção de um verdadeiro compêndio de teologia sistemática. Sobre esta vasta obra, infelizmente inacabada, vejamos o que Roger Olson tem a dizer:

Enquanto ensinava em Bonn, começou o grande empreendimento da sua vida de compor um sistema completo de teologia baseado na Palavra de Deus com o título de Dogmática eclesiástica. Quando Barth morreu, em 1968, a obra estava inacabada, mas já consistia em treze grandes volumes. A intenção de Barth era compor uma teologia sistemática completamente livre de qualquer influência filosófica predominante, baseada exclusivamente na exegese da Palavra de Deus em Jesus Cristo, segundo o testemunho das Escrituras. ( OLSON.p,593 )
Nesta sua fase alemã, Barth acompanhou com apreensão o surgimento e ascensão do nazismo. Em 1933, quando Hitler finalmente obteve o poder pleno, foi uma das poucas vozes dentro da comunidade evangélica alemã a se opor de forma clara ao regime fascista germânico. Neste mesmo ano, em meio à euforia que tinha tomado conta de toda nação alemã, inclusive da igreja, iniciou a publicação de uma nova revista intitulada A Existência Teológica Hoje, onde denunciou, de forma clara, o caráter pagão e anticristão do regime hitlerista. A atuação de Karl Barth como opositor ao nacional-socialismo não ficou restrita a esta esfera. Juntamente com outros lideres evangélicos, destacou-se como mentor intelectual da famosa Declaração de Barmen, documento doutrinário aprovado pela Igreja Confessante, segmento que se opunha à crescente influência nazista dentro da Igreja Evangélica Alemã, formada por luteranos, reformados e unidos. Um dos parágrafos chocava-se claramente com o totalitarismo nazista: 8.23- Rejeitamos a falsa doutrina de que o Estado poderia ultrapassar a sua missão específica, tornando-se uma diretriz única e totalitária da existência humana, podendo também cumprir desta forma a missão confiada à igreja.
Obviamente, tal oposição não ficaria impune. Em 1935, Barth foi expulso da Alemanha, retornando para sua Suíça natal, exercendo o magistério teológico na Universidade de Basiléia. Neste período, continuou sua oposição firme ao nazismo, assim como apoiou inúmeras causas populares e progressistas, como a republicana durante a Guerra Civil Espanhola.
Continuaria a produzir teologia de altíssima qualidade até o ano de sua morte, em 1968.


NINGUÉM EXPLICA DEUS 



1-Deus, o “Totalmente Outro”.

Para Karl Barth, um dos grandes erros do liberalismo foi nivelar Deus ao conhecimento humano. Para ele, Deus seria o “totalmente outro”, aquele que só pode ser conhecido por sua própria revelação, no caso, Jesus Cristo. Qualquer pretensão humana, seja ela baseada no conhecimento natural, cientifico, filosófico e até mesmo religioso, não passa de mera idolatria humana. Desta forma, repudiou qualquer tipo de teologia natural durante quase toda vida. Esta postura foi sendo abrandada no decorrer dos tempos.

2 - Palavra de Deus

De acordo com o teólogo suíço, a Palavra de Deus é tão soberana e sublime, que não pode ficar restrita a um mero evento ou objeto, mesmo que esse objeto seja a própria Bíblia. Assim, a verdadeira Palavra de Deus é Jesus Cristo que se encontra constantemente com o ser humano. Desta forma, a Bíblia se torna palavra divina pelo fato de proporcionar este contato com a pessoa de Cristo. Notamos em Barth um retorno crucial a forma de interpretação bíblica praticada pelos reformadores, notadamente Lutero e Calvino. Não encontramos em Barth uma identificação da letra do texto bíblico como Palavra de Deus.

2- Eleição/ Predestinação

Como teólogo reformado, Karl Barth sustentava a doutrina da dupla predestinação. No entanto, realizou uma criativa e bíblica modificação. Segundo a ortodoxia reformada, Deus, em sua soberania, elegeu um determinado grupo de pessoas para a salvação e outro para a perdição.
Para Barth, este duplo decreto ocorria na pessoa de Jesus Cristo. Cristo, como filho de Deus, é o único eleito. No entanto, para que a humanidade não experimentasse em si mesma a condenação que lhe é devida, Jesus assumiu sobre si a rejeição diante de Deus. Desta forma, Jesus foi, ao mesmo tempo, eleito e rejeitado, consumando, através do momento de máxima rejeição por Deus, a crucificação, a salvação de toda criação.

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